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Jornalista e mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA), foi colunista da Folha de 2018 a 2025 e atualmente é Secretário de Redação da Sucursal de Brasília

Preservação da democracia precisa de memória e depende de justiça

Investigação e punição por tentativa de golpe são mais importantes que cerimônias

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Brasília

A cerimônia que marcou os dois anos dos ataques de 8 de janeiro conferiu à lembrança do golpismo um ar corriqueiro. Os atos organizados pelo governo Lula produziram símbolos já esperados, discursos sem muita surpresa e mensagens que se tornaram óbvias. Nem mesmo as ausências, queixas e manifestações de incômodo causaram espanto.

A memória não depende de pirotecnia para servir como ferramenta de acerto de contas de uma sociedade com seu passado. A tarefa coletiva de evitar retrocessos exige basicamente que as ameaças e violações que marcam a história sejam reconhecidas de maneira mais ou menos consensual e resistam a tentativas de distorção e relativização.

O golpismo de 2022-23 mantém um bom nível de rejeição entre os brasileiros. Pesquisas captam um repúdio majoritário aos ataques em Brasília e uma distribuição razoável de responsabilidades pela tentativa de golpe de Estado executada por Jair Bolsonaro e seus aliados. As divisões políticas do país e a hesitação de alguns atores, porém, fazem com que a memória seja um fator insuficiente.

A negociação de uma proposta despudorada de anistia no feirão do Congresso e a covardia de políticos que se recusam a condenar o golpismo fazem com que, em determinados círculos da vida nacional, a lembrança daquele crime praticado à luz do dia seja acompanhada de um "veja bem" carregado de preferências partidárias. A concentração dos atos de defesa da democracia em torno de Lula, ainda que legítima, não ajuda a desfazer o quadro.

Militares ainda aproveitam a situação para propagandear, de forma atrevida, um mal-estar com a lembrança de sua participação na investida golpista. Os lamentos são mais uma prova de que o suposto heroísmo daqueles comandantes que negaram apoio ao golpe de Bolsonaro continua em falta na caserna.

Os esforços para fragilizar a memória como elemento de preservação da democracia e de exclusão de seus agressores faz com que seja ainda mais necessário recorrer a um segundo instrumento, essencial para esse processo: a justiça. Uma investigação completa e a punição correta dos envolvidos no golpismo vale muito mais do que qualquer evento.

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