Andanças na metrópole

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Andanças na metrópole - Vicente Vilardaga
Vicente Vilardaga

Clássico da pornografia da Boca, 'Oh! Rebuceteio' faz 40 anos

Polêmico longa-metragem será exibido no bar Soberano, na Rua do Triunfo, dia 11

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São Paulo

Um dos lançamentos mais polêmicos e criativos do cinema paulista da Boca do Lixo, o filme pornográfico "Oh! Rebuceteio" está completando 40 anos. Não se trata de uma pornochanchada, já que vai além da nudez e tem inúmeras imagens de sexo explícito. Faz parte de um novo contexto cinematográfico.

Dirigido e protagonizado por Cláudio Cunha (1946-2015), o longa-metragem mostra um diretor de teatro tentando montar uma peça libertária e despudorada. Pertence a um período em que as produções quase ingênuas de humor sexualizado se radicalizaram, aproveitando o relaxamento da censura e da repressão política e moral.

Rebuceteio é uma dinâmica da comunidade lésbica em que as mulheres se relacionam com amigas e ex-parceiras de amigas. Mas no caso do filme está associado a sessões de sexo grupal entre homens e mulheres. A palavra significa também uma grande confusão.

Cláudio Cunha
Cláudio Cunha na pele de Nenê Garcia, diretor da peça que se desenvolve no filme 'Oh! Rebuceteio'

A peça encenada no filme propõe uma suruba em que todos são estimulados a se libertar e transar. A maior parte da trama se desenvolve no palco de um teatro, no caso o Procópio Ferreira. O próprio Cunha faz o papel do diretor Nenê Garcia, um sujeito alucinado cujo objetivo é obter a máxima espontaneidade dos atores. A protagonista é uma garota chamada Letícia, interpretada por Eleni Bandettini. A trilha sonora original de "Oh! Rebuceteio" é de Zé Rodrix e Miguel Paiva.

Para quem gosta do gênero, a obra de Cunha pode ser incluída entre as melhores já feitas, comparando-se a "Garganta Profunda", "O Império dos Sentidos" e "Calígula". Apesar da alta carga pornográfica, o longa tem um caráter experimental, bem-humorado e lida com assuntos como a metalinguagem, o medo da exposição sexual e os conflitos familiares.

Cena do Oh! Rebuceteio
Cena do filme, que apesar da alta carga pornográfica, tem um caráter experimental e bem-humorado

No tempo da pornochanchada, Cunha dirigiu filmes como "O Clube dos Infiéis", "Amada Amante", "Sábado Alucinante" e "Vítimas do Prazer". No teatro, se imortalizou no papel principal de "O Analista de Bagé", de Luis Fernando Veríssimo. Ele bateu o recorde de ator que mais tempo interpretou um mesmo personagem.

""Foi maravilhoso conhecer e, ao mesmo tempo, trabalhar com Cláudio Cunha, uma pessoa muito comprometida com o cinema e o teatro", afirma Débora Munhyz, uma das atrizes de "Oh! Rebuceteio". "Era um período de transição na Boca, que deixava a pornochanchada e aderia ao pornô."

Oh! Rebuceteio
Cartaz de 'Oh! Rebuceteio', que será exibido no bar-museu Soberano no próximo dia 11, às 20 horas.

Débora já havia feito outro filme do gênero chamado "A B... Profunda", de Álvaro de Moya, mas diz que foi muito difícil se enquadrar quando o sexo dissimulado das pornochanchadas passou a ser para valer. "Era uma situação nova no mercado e fiz uma opção. Ou ia em frente ou parava e decidi continuar porque se tratava de um pessoal conhecido e o Cláudio estava muito comprometido com a arte."

"Oh! Rebuceteio" é um exemplo perfeito da mudança de rumo e da crise do cinema paulista, que, a partir de 1981, com "Coisas Eróticas", dirigido por Raffaele Rossi, se rendeu ao sexo explícito. É também uma celebração da liberdade criativa e da quebra de tabus. Esquecido, foi apresentado, em 2012, em uma mostra de filmes da Boca do Lixo no festival de Roterdã, na Holanda. Se alguém tiver curiosidade, o longa será exibido no bar-museu Soberano, na rua do Triunfo, 155, no próximo dia 11, às 20 horas.

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