Becky S. Korich

Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

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Becky S. Korich
Descrição de chapéu Natal

O que você vai fazer pelo seu 2024?

Nesta semana a positividade exagerada não será tóxica

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Pode relaxar o sorriso. Se você está lendo isso, é sinal de que sobreviveu ao amigo secreto, ao peru, à reunião compulsória da família. Agora já dá para pensar no fim do ano e escolher com quem passar a virada, "como" e "se" quer comemorar. E pensar nas escolhas mais grandiosas que só os inícios nos convidam a fazer. É hora de se questionar o que "hoje", você quer do "amanhã", apesar de ambos serem meros advérbios de tempo.

Datas obrigatórias são um anticlímax à alegria genuína, à espontaneidade, ao tesão. Mas algumas coisas só acontecem justamente por causa das convenções. Graças aos inícios e aos términos não estamos fadados a viver o dia da marmota de "Feitiço do Tempo", presos ao tempo como Bill Murray, e acordar todos os dias no mesmo lugar.

Recebemos duas grandes bênçãos: a vida e a finitude dela. O que se apresenta como uma limitação é justamente o que mais liberta. Quando nos deparamos com a possibilidade do fim, somos despertados à urgência. É por ela que a vida pulsa, é por ela que não é permitido desperdiçar o tempo, é por ela que fazemos renúncias. Inícios servem para isso: para que lembremos o fim.

Temos mais uma semana para preparar o ninho do ano que vai nascer. Tudo pode caber nesse horizonte, tudo pode ser escrito nas folhas em branco. Em março, certamente esse livro estará cheio de rasuras, as folhas mais amassadas e as letras desalinhadas. Não poderia ser diferente, só assim a vida é viável. Longe de ser um compromisso com o futuro (isso não existe), a essência do momento é maior: é nos fazer desligar o piloto automático e protagonizar o nosso trajeto.

Pessoas posam para fotografia diante de '2024' em Ouro Preto, Minas Gerais - Douglas Magno/AFP

Há que se ter coragem e humildade para que possamos imergir para dentro de nós, (nos dispormos a) enxergar além da superfície narcísica da autoimagem e recolher as partes esquecidas de nós nos esconderijos particulares. É hora de acessar o núcleo, onde está o sentido da vida. De parar de terceirizar erros e de culpar os outros pelos nossos fracassos, e menos ainda culpar a nós mesmos. A culpa é inútil; o ressentimento, pesado; a preguiça, um disfarce para o medo. É o momento de parar de reclamar que não ganhamos na Mega-Sena e começar a jogar, hora de fazermos nossas apostas, acreditar um pouco mais, mesmo que comece com o impossível. Para sermos otimistas temos que ser um pouco mentirosos... vai que a vida acredita.

Estamos na semana da autoajuda, de cantar "hoje é um novo dia", mesmo que não seja de um novo tempo. É o momento de sermos coaching de nós mesmos, resilientes, empoderados, empáticos, sem nos arrepiarmos de raiva dos movimentos motivacionais. É hora de nos arrepiarmos pela vida. Nesta semana a positividade exagerada não será tóxica.

O otimismo inteligente não faz previsões, faz projeções. Isso implica em colocarmos dentro dele um pouco de pessimismo. Não aquele que nos derruba, mas aquele faz vislumbrar riscos e despertar estratégias para evitar problemas futuros.

É hora de inverter as perguntas existenciais. No lugar de "por que isso aconteceu isso comigo?", perguntar "para quê?". Em vez de "o que Deus quer de mim?" perguntar "o que eu quero de Deus". Hora de aplicar a máxima de Sartre "não importa o que a vida fez de você, importa o que você faz com o que a vida fez de você". É tempo de sonhar: as infinitas possibilidades são mais fecundas do que o próprio futuro.

É a semente que define o potencial da árvore, a tonalidade da flor, a qualidade da fruta. Véspera de ano novo, nesta semana temos acesso mais íntimo com essa semente. Não tem mágica, não depende dos astros nem do acaso, o destino só acontece com a nossa conivência. Manter o que está bom já será uma grande vitória. Mudar e tirar da frente o que nos imobiliza é mover mundos. Nos transformar pode ser difícil, não nos transformar pode ser fatal. Se não exigirmos de nós o que devemos ser, acabaremos sendo piores do que somos.

Enquanto o futuro não se decide, vamos viver hoje sendo o modelo do que queremos ser. Hoje podemos ser otimistas, no restante do ano basta que tenhamos esperança.

Feliz 2024!

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