Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Descrição de chapéu tecnologia

Em mundo hiperconectado, o café com amigos fica para depois

Pesquisas mostram que socialização presencial está sendo substituída por isolamento

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Às vezes, parece mais fácil conversar com os amigos por aplicativos do que cruzar a cidade para um café. Não à toa, pesquisas apontam um crescimento expressivo do tempo que passamos reclusos em casa. Nos Estados Unidos, a proporção de adultos que jantam ou tomam algo com amigos em uma noite comum caiu mais de 30% nos últimos 20 anos. Paralelamente, o número daqueles que já não saem de casa aumentou em 99 minutos por dia desde 2003. Esses dados, apresentados por Derek Thompson em um artigo para The Atlantic, revelam como a socialização presencial está sendo rapidamente substituída por um isolamento mesmo em um mundo hiperconectado.

ilustração colorida mostra pessoa, de costas, sozinha, em pé em nuvens escuras sobre um céu esverdeado
Jorm Sangsorn/adobe stock

Durante o lockdown em Xangai, analisado por Lulu Peng e outros pesquisadores, percebeu-se como as redes sociais moldaram os processos de regulação emocional das pessoas. Afundados na ansiedade e no medo, muitos se voltaram para a internet em busca de alívio. As possibilidades de uso oferecidas pela tecnologia foram acionadas para lidar com emoções negativas, como a seleção de conteúdos que evitavam gatilhos emocionais. Contudo, mesmo essas estratégias não foram suficientes para substituir o conforto das relações presenciais.

O uso nocivo das redes sociais também tem sido associado a um enfraquecimento do suporte social na vida real. Estudos como o de Dar Meshi e Morgan Ellithorpe mostram que, apesar de as interações digitais aumentarem, elas não oferecem o mesmo valor emocional. O suporte recebido nas redes é superficial, enquanto o da vida real reduz significativamente os sintomas de depressão e ansiedade.

O problema, no entanto, não está nas redes em si, mas no uso que fazemos delas. A conectividade pode ser reconfigurada para fortalecer laços sociais. Durante o lockdown, por exemplo, grupos de vizinhança em Xangai foram repaginados para oferecer apoio emocional. Esses espaços digitais se tornaram locais de troca e solidariedade, preenchendo uma lacuna criada pelo distanciamento físico. Contudo, quando o lockdown terminou, muitas dessas conexões se dissolveram, revelando a fragilidade dessas interações temporárias.

Se desejamos combater o isolamento, precisamos redesenhar nossas práticas digitais e sociais. O primeiro passo é reconhecer os limites das redes. Elas podem conectar, mas não substituem o contato humano. Estudos sugerem que pequenas mudanças de comportamento — como dedicar mais tempo a encontros presenciais — têm impactos significativos na felicidade. Nick Epley, psicólogo da Universidade de Chicago, argumenta que, apesar do desconforto inicial, interagir com desconhecidos gera maior satisfação emocional do que o isolamento. Pequenos atos de conexão no mundo físico podem ser mais poderosos do que imaginamos.

É também urgente ensinar as próximas gerações a equilibrar tecnologia e vida real. A solução não é proibir ou demonizar redes sociais, mas educar para um uso que promova encontros. Pais, escolas e governos podem colaborar para limitar o tempo de tela e criar oportunidades para que jovens explorem interações no mundo físico.

A transformação começa com escolhas individuais e coletivas. Precisamos questionar nossas próprias práticas: estamos cultivando conexões ou apenas colecionando contatos? Estamos buscando conforto no virtual porque é mais fácil, ou porque esquecemos como interagir no mundo real? A resposta a essas perguntas pode moldar o futuro de várias das nossas relações.

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