Nossas vidas de brasileiros aflitos, seja por necessidades materiais ou por turbulências políticas, transpõem neste domingo uma dramática divisória existencial.
Encerrarmos o dia com reeleição de Bolsonaro será o início da marcha forçada para um país dominado por violência, fanatismo falsamente religioso, exclusão dos direitos civis, silêncio cultural, político e pessoal.
Encerrarmos o dia com a derrota de Bolsonaro será mais um reencontro, talvez o último, com a esperança de um país enfim digno. Chegar a este dia é um êxito, mas não honra o Brasil.
O que os brasileiros aceitaram viver durante quatro anos foi humilhante. E o fizeram com plena consciência do que se passava em suas vidas e em seu país.
A percepção clara do ataque demonstrou-se pela impressão dominante nos dois primeiros anos, ou um pouco mais, de que Bolsonaro não conseguiria chegar ao fim do mandato.
Nada do que o passado legou de positivo foi isentado de algum tipo de dano por Bolsonaro e seus cúmplices.
Nada do legado negativo deixou de ser incentivado: racismo, extermínio indígena, devastação da Amazônia, assalto à riqueza natural, milícias criminosas, maiores pobreza e miséria, corrupção e tantos outros males agravados.
No tempo restante, dois anos quase, a sensação dominante inverteu-se: sólido no poder, Bolsonaro queria o golpe.
Além de toda a malfeitoria, que passara a incluir os horrores da pandemia ampliados pela conduta perversa do governo, o próprio Estado Democrático de Direito ficava ameaçado.
Nem assim houve dignidade e convicção democrática bastante para mover a sociedade e as instituições em defesa de si mesmas —salvo a atitude de uns poucos, nem para os dedos das mãos, que batalham ainda.
Se a eleição final está aí, é porque Bolsonaro e os seus militares temeram os riscos para o golpe, vindos do exterior.
Foram quatro anos vergonhosos, anos que não se esquecem. O que fazer deles é o que fazer dessa vergonha.
Estender esses anos até o inimaginável, sob vergonha irremediável, ou retomar o caminho que a Constituição pavimentava até o golpe contra Dilma Rousseff. É a questão que a esfinge e seus botões põem hoje a cada eleitor.
Viva a liberdade. Viva a democracia. Viva a igualdade racial. Viva a vontade de fazer do Brasil um país de verdade.
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