Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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O NYTimes se rendeu a Dana White, por que isso importa ao Brasil?

O que os insights do maior promotor de lutas do mundo, que ajudou a reeleger Trump, nos antecipam sobre o futuro político do país

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O New York Times se dobrou à influência de Dana White, presidente do UFC, a principal organização a promover um esporte novo chamado artes marciais mistas (MMA). O episódio do podcast The Daily, do jornal, publicado em 2 de janeiro, reconhece a importância de White como um dos responsáveis pelo retorno de Trump à Casa Branca.

O CEO do Ultimate Fighting Championship, Dana White, fala durante um evento da campanha de Donald Trump, no Palm Beach Convention Center - Win Mcnamee - 6.nov.24/Getty Images via AFP

White é o empresário responsável por preencher a lacuna deixada pelo boxe como esporte de combate das massas. O podcast menciona, por exemplo, como o MMA reflete a identidade trabalhadora, para quem a sobrevivência é uma luta corporal contra as dificuldades cotidianas. E de como o UFC mobiliza também o perfil de empreendedores, pessoas que querem vencer e chegar ao topo.

A dedicação e a entrega do atleta de combate, que põe sua vida em risco ao competir, ressoa com essa audiência, descrita pelo Times como a "bolha masculina" ("manosphere" em inglês). Essa foi uma faixa demográfica preciosa na eleição nos EUA. Por meio da relação que White desenvolveu com criadores de conteúdo independentes, Trump se tornou conhecido por homens jovens desinteressados por política, inclusive negros e latinos.

Ao comparecer ao UFC 309, semanas após vencer a corrida presidencial, Trump não apenas demonstrou sua gratidão a White. Ele celebrou sua redenção política sendo recebido pela plateia como herói. A reação da audiência à entrada dele na arena causou tanto barulho e comoção que forçou os apresentadores a interromperem seu trabalho.

O perfil de White publicado pelo Times em abril e o episódio do The Daily destrincham a relevância que o UFC conquistou, a despeito da resistência ao esporte por parte da mídia tradicional e do deboche das elites cultas adeptas ao politicamente correto. Vale destacar, por exemplo, o envolvimento de White na campanha para "descancelar" a marca Bud Light, atacada por consumidores, especialmente nas camadas populares, após uma ação promocional com uma influenciadora trans.

E o que o Brasil tem a ver com tudo isso? Tem muito. O UFC foi fundado originalmente pelo lutador Rorion Gracie e o estilo de jiu-jitsu dos Gracie deu origem às artes marciais mistas. Alguns dos maiores nomes da organização, do passado e do presente, são brasileiros. Um ex-borracheiro e ex-alcoólatra do ABC paulista, Alex "Poatã" Pereira, foi eleito o atleta do ano de 2024.

Vale lembrar que, quando ainda era pré-candidato, o influenciador Pablo Marçal desafiou o ex-campeão de boxe Arcelino "Popó" Freitas para uma luta de exibição. Popó aceitou. Durante a campanha, Marçal participou do podcast do ex-lutador Fabrício "Vai Cavalo" Werdum, e mostrou que acompanha o esporte.

"Os Estados Unidos estão tão suaves que, se você tem alguma coisa de selvagem em você, tudo o que
existe hoje está ao seu alcance." A frase de White ajuda a refletir sobre Marçal, um novato na política que não levou a prefeitura de São Paulo por um fio de cabelo. Como Trump em 2020, agora ele enfrentará a Justiça. Ainda ouviremos falar dele.

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