O posto de maior economia do mundo garante uma característica peculiar aos Estados Unidos: quando há insegurança financeira global, eles são vistos como "porto seguro" para o dinheiro, ainda que sejam a causa da insegurança.
Assim, a eleição de Donald Trump, encarado mundialmente como um provável gerador de barreiras comerciais e conflitos diplomáticos, gerou uma verdadeira corrida ao mercado financeiro americano.
Desde que o republicano foi eleito, US$ 140 bilhões (mais de R$ 850 bilhões, na cotação atual) foram injetados em fundos de investimento nos Estados Unidos, conforme publicou o Financial Times. Ou seja: em menos de um mês, as gestoras de fundos dos EUA receberam mais que o PIB do Marrocos (segundo dados do Banco Mundial).
Esse dinheiro não vem de geração espontânea. Mercados emergentes (como o nosso), China e Europa tiveram êxodo financeiro no mesmo período. Outra grande parte da grana estava em caixa, esperando a direção que seria tomada nas eleições.
Com o chamado Republican Sweep, ou seja, o Partido Republicano levando, além da Casa Branca, a maioria da Câmara e do Senado, a direção ficou clara e o dinheiro adentrou o mercado financeiro americano.
Fundos de investimento, entretanto, são apenas os veículos. A destinação do dinheiro causou, por exemplo, a disparada do bitcoin e de outras criptomoedas, bem como a sequência de recordes dos índices S&P 500, Dow Jones e Nasdaq.
A visão de que os novos manda-chuvas dos EUA vão incentivar a aceleração da economia, cortando impostos e reduzindo a regulamentação de setores, explica o entusiasmo. Apesar do provável empurrão no curto prazo, isso, somado às barreiras de importação já anunciadas, poderá levar ao doloroso combo de inflação e juros, no médio prazo.
Provavelmente de olho nisso, os bilionários do mundo já estão se posicionando para lucrar com o boom econômico americano nos próximos 12 meses. Mas, quando pensam nos próximos cinco anos, têm opinião diferente. A informação está em relatório divulgado na última semana pelo banco UBS e a auditoria PwC, o Billionaire Ambitions Report 2024.
Nesse relatório anual, o UBS contabiliza os ricaços em cada lugar do mundo e tenta extrair suas perspectivas para entender o caminho do dinheiro. Onde a grana chega, a valorização aparece, na lógica clássica de oferta e demanda.
Para os próximos 12 meses, 80% dos bilionários do mundo preveem bons retornos de investimentos nos EUA, enquanto 25% que acreditam que lucrarão colocando dinheiro na região Ásia-Pacífico; e apenas 11% enxergam boas oportunidades na China. Para os próximos cinco anos, entretanto, as apostas nos EUA caem para 68%, enquanto Ásia-Pacífico parece atraente para 45% deles e, China, para 31%.
Quando a divisão é por classe de ativos, o jogo é mais apertado. No próximo ano, 43% pretendem aumentar sua fatia no mercado imobiliário; 42% dizem que comprarão mais ações do mercado americano, principalmente ligadas a tecnologia e inteligência artificial; e 40% deverão aplicar mais em ouro e metais preciosos (proteção contra riscos geopolíticos e incerteza).
Os bilionários têm dinheiro a perder de vista, mas não costumam perdê-lo. Entender a visão deles sobre esse novo momento na economia mundial pode te ajudar a navegar junto dos tubarões.
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