Humoristas souberam proclamar independência ao longo das décadas. Há quase cem anos, Aparício Torelly, criador do personagem Barão de Itararé, escreveu o seguinte: "Não é triste mudar de ideias. Triste é não ter ideias para mudar". Décadas mais tarde, disse Jô Soares: "O humorista é, antes de mais nada, um anarquista. Ele tem que ter essa possibilidade de brincar a torto e a direito. Ou à esquerda ou à direita".
Millôr Fernandes resumiu bem a ideia : "Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados". No caminho oposto à independência e (por que não) ao humor estão aqueles que permanecem bolsonaristas. Por vagarem em caminhões, motos e a pé como um exército bitolado, esses bolsonaristas foram apelidados de "minions".
Para os "minions", qualquer sinal de independência é imediatamente classificado como traição. Lula derrotou nas urnas o projeto ditatorial de Jair Bolsonaro. Venceu o projeto democrático nas eleições de 2022.
Mas uma fatia barulhenta da esquerda ignora que o projeto democrático pressupõe discordância, diálogo, humor e —principalmente — independência. Usam o autoritarismo para combater o autoritarismo. Resultado: contra "minions" mal-humorados, estão recrutando um exército de "esquerdominions" mal-humorados.
Para os "esquerdominions", então, agora ninguém pode criticar Lula, o alecrim vermelho. Para os "esquerdominions", Gregorio Duvivier não pode apresentar fatos, argumentos e piadas contra a indicação de Cristiano Zanin para o STF. Duvivier não pode sugerir renomadas mulheres negras para a próxima indicação ao STF.
Os "esquerdominions" não rebatem Duvivier com fatos, argumentos ou piadas. Nem sequer discutiram a relevância simbólica, inspiracional e transformadora de uma juíza negra no STF.
Para os "esquerdominions", Duvivier quer ensinar Lula a fazer política, o Brasil 247 a fazer jornalismo e os astrólogos a fazerem previsões. Será que Lula não pode ser criticado por sugerir voto sigiloso aos ministros do STF, por ceder ao centrão, por estender tapete vermelho para o ditador Nicolás Maduro?
Humoristas souberam proclamar independência ao longo dos anos. O exemplo pode ser seguido por qualquer um. Não são só os humoristas que garantem: numa democracia, presidentes têm de saber lidar com críticas. Pode não parecer, mas isso inclui Lula.
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