O governador de São Paulo convocou a imprensa para anunciar um modelo inovador de gestão meteorológica.
"Toda vez que cai uma tempestade é a mesma coisa: todo governante vai à imprensa dizer que foi pego de surpresa. Chega!", berrou Tarcísio de Freitas enquanto batia um guarda-chuva com força numa mesa. "O fato é que os índices pluviométricos não têm ‘business plan’. As nuvens se formam de forma desordenada, e as precipitações desabam sem planejamento", explicou com uma caneta laser, diante de um gráfico que mostrava os benefícios que a privatização das chuvas podem trazer para a valorização da Sabesp.
Em seguida, após ouvir um trovão que caiu sem pagar impostos, o governador completou: "Todos sabemos que a iniciativa privada está mais preparada do que a natureza para lidar com as chuvas de verão. Este, portanto, é o meu dever enquanto gestor público do século 21: enquanto meus antecessores jogavam o problema para o céu, eu vou delegar para a iniciativa privada".
De acordo com o governo, a privatização das chuvas vai ser de grande proveito para a população. "Um serviço melhor por um preço menor", segundo o release distribuído a jornalistas. A proposta é trazer um choque de gestão meteorológico. "Vamos implementar o rodízio de tempestades. Segunda-feira vai ser o dia de chover nos bairros que terminam com as vogais ‘A’, ‘E’ e ‘U’."
"Às terças, nuvens carregadas se formarão em bairros terminados em consoantes. Quarta é dia exclusivo de Higienópolis. E as demais regiões receberão água do céu às sextas", explicou o governador.
Perguntado sobre os finais de semana, Tarcísio se limitou a dizer que as negociações estão avançadas. "Ainda não posso revelar detalhes, mas temos uma empresa interessada em adquirir os ‘naming rights’ da expressão ‘frente fria’", disse.
Depois, o governador vendeu uma cota de patrocínio master para a sonorização das trovoadas. "All around you", gabou-se.
O modelo de privatização prevê uma assinatura premium para que os paulistas controlem a intensidade da chuva com um "dimmer". No futuro, segundo o governo, haverá a possibilidade de regular a temperatura das gotas d’água.
Perguntado sobre as construções em áreas de risco e as garantias para a população mais vulnerável às enchentes, Tarcísio franziu a testa e lamentou: "Não sou bombeiro".
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