Sapiente de que o Reino de Messias independe do Judiciário, da imprensa e da ética, o Jair Bolsonaro resolveu anistiar a si mesmo. "Pra que depender daquele Alexandre Pilatos, da mídia pagã e das leis dos Homens pra me julgar se eu posso fazer isso sozinho?", discursou. Em seguida, soltou um versículo bíblico para justificar sua postura: "'Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna', João 3:16".
Ungido de óleo de peroba, ele continuou. "Nunca atuei fora das quatro linhas da Constituição. Nunca!", disse o ex-Messias enquanto abria o seu exemplar da Constituição para mostrar que havia apenas quatro linhas escritas em suas páginas.
Bolsonaro convocou apoiadores para mostrar que a autoanistia é frequente na sua trajetória. "Quando eu era do Exército, vieram com esse mimimi de que planejei um atentado a bomba no rio Guandu. Vieram até com uma minuta impressa e auditável, que na época chamavam de croqui", explicou. Na sequência, subiu o tom: "Cadê a explosão? Cadê a bomba, porra? Um estalinho sequer!".
Na ocasião, o Exército levou em conta um exame grafotécnico no julgamento do caso. Foram quatro votos. Dois cravaram que os desenhos eram de Bolsonaro. Outros dois julgaram os exames inconclusivos. O tribunal sacou da cartola um "empate". É como se um time de futebol fizesse dois gols, o outro não fizesse nenhum e o juiz decretasse um empate.
"Não quero me gabar, mas foi meu primeiro milagre", completou Jair. "Resolvi me autoanistiar e parti pra vida pública". Em seguida, mais uma vez apresentou mais um versículo para fundamentar seu raciocínio: "'Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas', Mateus 6:33".
O ex-presidente continuou a apresentação. "Rachadinha? Anistiei-me. Joias sauditas? Anistiei-me pra caralho". E seguiu a lista: "Prevaricação? Facilitação do acesso a armas por bandidos? Crimes durante a Covid? A-n-i-s-t-i-e-i-me e foda-se".
A atitude de Bolsonaro foi euforicamente recebida pela multidão que o apoia. Ouviram-se as expressões conhecidas como "Mito!", "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", "Selva!" e "Imbrochável". A frase que ficou de fora, desta vez, foi "Eu não tenho bandido de estimação".
"Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento."
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