O esforço foi grande e duradouro. Durante toda sua trajetória como empresário e celebridade da TV, Donald Trump se esmerou para construir uma imagem pública de um estúpido. Parecia seguir a máxima de Carlos Imperial, "Somente a vaia consagra o artista", para pisar no acelerador a cada oportunidade que tinha de ser grosseiro, cruel e ególatra. Tornou-se uma espécie de filho pródigo de Odete Roitman com Caco Antibes.
Trump fez sua fortuna construindo prédios de gosto duvidoso, driblando leis, pagando mal os funcionários e fazendo acordos que são contestados na Justiça. No fundo, "Make America Great Again" significa transformar os Estados Unidos num grande Balneário Camboriú.
O problema, como se vê, é que Trump não é somente estúpido.
Sua ascensão política calhou de acontecer num tempo em que o eleitor está em busca de soluções extremas. E a solução extrema que Trump oferece para o futuro é uma fantástica viagem aos anos 50. Um tempo em que a população mundial era de 2 bilhões e meio de pessoas. Havia empregos para os americanos brancos, que podiam maltratar à vontade suas esposas, ignorar os filhos e explorar os estrangeiros. Era o sonho de uma sociedade construída para dar ao homem branco a liberdade ampla para transar com quem quisesse e para maltratar quem quisesse. Esse é o conceito de liberdade que visam resgatar.
Hoje vivemos num mundo complexo, interligado pelo trabalho remoto e que presencia um esforço mundial para dar direitos iguais a mulheres, negros e gays. Um mundo com 8 bilhões de pessoas.
Como continuar prosperando, explorando e enriquecendo num mundo tão complexo e populoso? As respostas passam por criar mecanismos, controlados por algoritmos, que reduzem a complexidade agrupando pessoas com pensamentos comuns. E, principalmente, vendendo a ilusão de que um trabalhador de aplicativo que rala 18 horas por dia para pagar seus boletos é um empreendedor. A revolução de Trump e Musk quer um mundo sem regulações para suas ambições.
Uma distopia que vende a ideia de que um candidato investidor, empresário e integrado ao sistema financeiro é… antissistema. Pela estranha lente do celular, sua arrogância é vista como firmeza. As fake news estão tão dissimuladas pelos WhatsApps que as pessoas se acostumaram ao descolamento da realidade. As mentiras diárias, incontáveis e irresponsáveis de Trump simplesmente não importam.
O mundo de Trump é o da mentira, da concentração de renda e da tal liberdade selvagem do homem branco rico. Quem dera fosse apenas estúpido.
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