Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

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Renato Terra
Descrição de chapéu Meta Facebook

A mentira tem cauda longa

Democracias vivem seus últimos dias e a decisão da Meta acelera esse fenômeno

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As eleições foram fraudadas. Eles estão se alimentando de cachorros. Guilherme Boulos é usuário de cocaína, veja neste atestado. O Lula vai fechar igrejas. Não houve ditadura a partir de 1964. Estão distribuindo mamadeiras de piroca nas escolas.

Não é novidade que a mentira engaja. Ainda mais quando consegue captar o desejo de um grupo de que aquilo fosse verdade. Nenhuma das mentiras acima é desprovida de propósito. Todas têm objetivos claros. A mentira é rentável. A mentira é projeto de poder. Mas isso também não é novidade.

O que talvez seja novidade é que mentir deixou de ser errado. Antigamente, dizia-se que "mentira tem perna curta". Hoje podemos dizer que mentira tem cauda longa. A mentira é a matéria-prima das redes sociais. O Instagram é uma espécie de jogo do tigrinho social. Com a promessa de que o engajamento traz seguidores e os seguidores trazem anunciantes, usuários apostam sem pudor em mentiras que engajam.

O X virou um buraco negro que suga qualquer debate para a quinta dimensão. Nesse caso, é a dimensão da quinta série mesmo. Ganha seguidores quem ofende de maneira constante e absurda. O Facebook virou um grande grupo de WhatsApp para maiores de 50 anos.

Ícone estilizado inspirado no logotipo do Instagram, mas com o design de um olho de tigre no centro. O olho tem uma forma orgânica e sinuosa, remetendo à força e vigilância do tigre, com o gradiente característico de laranja, rosa e roxo que remete à identidade visual das redes sociais. A composição mistura simbolismo animal com o apelo visual moderno das plataformas digitais.
Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra de 10 de janeiro de 2025 - Débora Gonzales/Folhapress

Em todos os casos, as redes deixam cérebros acelerados em ritmo de "scroll". Somos bombardeados com informações coloridas que põem no mesmo pedestal o jornalismo profissional e o cunhado fofoqueiro. Sem distinção, as mentiras se misturam com os fatos num rocambole que enriquece os mentirosos.

As mentiras vêm de todos os lados. Os produtores de conteúdo alimentam uma vida virtual trabalhada no filtro da felicidade. E há mentiras orquestradas por projetos de poder cuja estratégia é criar inimigos em comum para formar e engajar sua base. São as mentiras que matam, como atacar a eficiência das vacinas ou menosprezar as mudanças climáticas.

O exército de zumbis "dopaminados" pela recompensa imediata dos "feeds" vive pulando de recorte em recorte da realidade. Nenhum raciocínio se completa.

Deixamos de ser capazes de imaginar. De costurar acordos. De mudar de opinião. As democracias estão vivendo seus últimos dias. A decisão da Meta é mais um passo nesse sentido. E aqueles que clamam pela "liberdade de expressão" são os mesmos que querem banir o TikTok dos Estados Unidos.

A mentira tem cauda longa. E lucro certo.

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