Eleitores de 57 das 95 cidades com mais de 200 mil eleitores retornarão às urnas neste domingo (29) para escolher seus prefeitos. Diferentemente do que afirmam alguns analistas políticos e candidatos que estão atrás na corrida, o segundo turno não é “uma nova eleição”. Desde 1998, 75,5% das 208 eleições municipais de segundo turno no Brasil foram vencidas por quem terminou o primeiro turno à frente, um resultado similar às 74 eleições de segundo turno para governador.
Por que as viradas —vitórias do segundo colocado no primeiro turno— são improváveis? Primeiro, eleitores dos candidatos que disputam o segundo turno não mudam seus votos entre um turno e outro. Segundo, a abstenção tende a ser um pouco maior no segundo turno, reduzindo o número de eleitores disponíveis para a virada. Terceiro, os resultados do primeiro turno importam. Quanto maior a soma de votos dos candidatos que avançaram e maior a distância de votos entre eles no primeiro turno, mais difícil se torna a virada. Por exemplo, se o primeiro colocado teve 40% dos votos e o segundo 30%, embora a diferença seja de apenas 10%, a virada só ocorre se o segundo conseguir mais de 20% dos 30% de eleitores que não votaram em nenhum dos dois no primeiro turno.
Portanto, nem todas as eleições de segundo turno são iguais. Há corridas em que o candidato com mais votos no primeiro turno chega perto dos 50% de votos válidos necessários para uma vitória direta, como em Pelotas (RS), onde a candidata líder teve 49,7%. Outras vezes o mais votado recebe um percentual baixo, como em João Pessoa, onde o líder teve 20,7%.
A distância de votos no primeiro turno entre os concorrentes também é chave. Em Vitória da Conquista (BA), o mais votado teve 47,6% dos votos, mas o segundo teve 45,9%, o que é um cenário bem diferente de Boa Vista, onde o primeiro turno terminou em 49,6% contra 10,6%.
Baseado nas eleições passadas e nos percentuais de votos no primeiro turno desta eleição, geramos uma probabilidade de virada para cada disputa. Em Pelotas e Boa Vista, a probabilidade de virada é de apenas 3%. Já em Vitória da Conquista, onde a diferença de votos entre os candidatos foi bem menor, a probabilidade já é de 29,7%. Nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, onde os líderes não chegaram a 40% dos votos, mas conseguiram uma vantagem considerável sobre seus adversários, as probabilidades são de 25% e 19,1% respectivamente.
Em 9 das 57 eleições, nossa análise indica que a probabilidade de virada é menor que 10%. Nesses casos, o líder do primeiro turno teve mais de 40% dos votos e uma distância maior que 20 pontos para o segundo colocado. Se um candidato tem essa vantagem na eleição presidencial argentina, nem há segundo turno. Lá, é declarado vencedor quem tenha 45% dos votos válidos ou 40% com diferença de 10 pontos para seu adversário.
Não obstante, outras disputas se mostram bem acirradas neste ano. A probabilidade de virada em Manaus, onde a primeira votação resultou em 23,9% contra 22,4%, é de 51,1%, cenário parecido com João Pessoa e Recife, onde as disputas são quase um cara ou coroa.
Cabe salientar, no entanto, que os candidatos de cada corrida também não são iguais. Como a disputa no segundo turno é decidida pelos eleitores de candidatos já derrotados, o melhor cenário é concorrer contra um candidato rejeitado por esse grupo. Assim, a inclusão de variáveis como o histórico e ideologia dos candidatos deve melhorar a previsão, provavelmente indicando mais chances de viradas para os candidatos situados no centro ideológico, mas isso demandaria outro artigo.
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