Quando Babau do Pandeiro gravou seu primeiro disco, em 2006, a internet ainda não tinha o alcance de hoje. Mesmo assim, suas músicas fizeram sucesso por meio de comunidades no Orkut e compartilhamentos no MSN. A obra bem-humorada viralizou, quando o termo ainda não era popular.
Por causa da popularidade na internet, passou a receber convites para programas de TV do Ceará e shows. Gravado de forma independente, com patrocínio de amigos e empresas para apenas uma hora de estúdio, o disco era compartilhado por bluetooth entre celulares ou comprado em bancas de pirataria.
"Assim foi se tornando o sucesso dele, completamente orgânico, sem nenhuma gravadora", diz o produtor musical Cleilton Ferreira, 42.
Comunidades de fãs, do Nordeste e até dos Estados Unidos, formaram-se nas redes sociais da época. Os internautas faziam brincadeiras com suas músicas —o que hoje seria chamado de meme.
"Onde fazíamos shows, ele batia muitas fotos com os jovens e eles levavam essas fotos para as comunidades do Orkut. Tanto que o público universitário foi enorme", lembra o produtor.
Suas letras traziam temas como ciúmes, bebedeira e outras coisas do cotidiano, sempre de forma satírica. Em algumas, registrava suas memórias. "Zeca Pijariba" fala sobre um amigo de infância, e "Dina", sobre duas primas.
José Maximiano de Sousa nasceu em Sobral (CE), em 1945, onde foi criado. Na infância, gostava de brincadeiras populares nordestinas, como biba e cordinha, além de peteca, que fazia com palha de milho.
Em 1964, dois anos após a morte de sua mãe, mudou-se para Fortaleza, onde começou a trabalhar como engraxate. Ao chegar à capital, começou a tocar pandeiro por influência de amigos. Tocavam em praças e praias.
Por mais de 20 anos, Babau trabalhou como guia de cegos. Também chegou a ser vendedor de pipoca, quando conheceu a esposa. Ficaram juntos até ela morrer em um acidente de trânsito, poucos anos após o lançamento do primeiro disco.
Visto como recluso, no auge do sucesso deixava todo o dinheiro que recebia na mão de uma familiar. Passou a desconfiar dos bancos após o confisco das poupanças no governo Collor.
Nos últimos anos, havia desenvolvido uma surdez, o que reduziu o número de trabalhos artísticos. Morreu em casa, aos 79 anos, no dia 25 de outubro.
Sem filhos, deixa músicas na memória popular, que, nos últimos anos, chegaram às plataformas de streaming.
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