Descrição de chapéu Bloomberg Energia Limpa

Vitória de Trump desencadeia venda indiscriminada de ESG

Ativos sofreram impacto significativo logo após resultado das eleições, mas analistas pedem cautela

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Poucas classes de ativos sofreram um impacto tão significativo logo após a vitória eleitoral de Donald Trump quanto aquelas associadas ao ESG. No entanto, a venda parece estar ficando um pouco exagerada, segundo alguns fundos de hedge e empresas financeiras que acompanham o movimento do mercado após o resultado da eleição nos Estados Unidos.

"O mercado está simplesmente vendendo renováveis" (referindo-se a ativos ligados à energia de fontes renováveis), disse Per Lekander, CEO do fundo de hedge Clean Energy Transition, com sede em Londres. "No geral, não está errado, mas está fazendo isso de forma indiscriminada, então isso cria oportunidades."

"Espere uma semana e depois compre", afirmou ele.

A imagem mostra um parque eólico ao entardecer, com várias turbinas eólicas em silhueta contra um céu que apresenta tons de azul e laranja. As turbinas estão dispostas em diferentes posições, criando um padrão visual interessante.
Turbinas de energia eólica em Palm Springs, na Califórnia - Mike Blake - 12.out.2024/Reuters

Uma vitória de Trump sempre seria um choque para investidores que adotam métricas ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG, na sigla em inglês). O partido Republicano há muito critica o ESG, caracterizando-o como uma perversão "woke" dos objetivos do capitalismo. A vitória esmagadora deixou setores ligados a ESG, como o de energia eólica, sofrendo enormes perdas, com a fabricante dinamarquesa de turbinas Vestas Wind Systems, por exemplo, perdendo mais de 10% de seu valor de mercado nesta quarta-feira (6).

Empresas de energia solar foram especialmente atingidas: o valor de mercado da Sunnova Energy International caiu até 52%, o da First Solar recuou quase 20%, e o da Sunrun, teve queda de até 30% em Nova York.

"Após uma forte reação negativa inicial esperada, acreditamos que pode haver oportunidades de compra atraentes para certas ações e subsetores", disseram analistas do JPMorgan Chase, incluindo Mark Strouse, em nota aos clientes.

Agora, há céticos observando que a suposição principal por trás da venda —uma revogação em massa de políticas climáticas implementadas durante o governo de Joe Biden— pode não ter fundamento.

A principal peça legislativa que se acredita estar na mira é a Inflation Reduction Act, de 2022, que introduziu créditos fiscais para todas as áreas, desde veículos elétricos a painéis solares. A revogação da IRA exigiria o apoio do Congresso. No entanto, não está claro se muitos estados republicanos que se beneficiam desta da lei apoiariam tal movimento.

"Não há a menor chance de que republicanos de estados do Sul que criaram milhares de novos empregos apoiem isso", disse Lekander.

Com muitos estados republicanos lucrando com a legislação favorável ao clima, "esperamos apenas impacto moderado e consideramos a revogação da lei provável apenas em caso de uma vitória total dos republicanos" na Câmara e no Senado, de acordo com Greg Hirt, diretor de investimentos de estratégias de multiativos na Allianz Global Investors.

Hirt e sua equipe, incluindo Michael Krautzberger e Virginie Maisonneuve, também observam que um recuo dos EUA em políticas verdes prejudicaria sua posição internacional e, em vez disso, "impulsionaria o avanço da China para se tornar o líder global em tecnologias climáticas."

Matt Patsky, CEO da Trillium Asset Management, disse que a venda de ações verdes pode, de fato, ser "uma reação exagerada e isso pode ser uma oportunidade de compra". A vitória de Trump é "um retrocesso, sem dúvida", disse Patsky. Entretanto, a "linha de tendência de longo prazo na transição energética é irrefutável."

A relação especial entre Trump e Elon Musk também dificulta imaginar os republicanos pressionando por políticas que prejudicariam a gigante de veículos elétricos Tesla, em que Musk é CEO. Na verdade, a Tesla está entre as empresas preparadas para "avançar com investimentos agressivos nos EUA em portfólios de veículos elétricos e cadeias de suprimentos," escreveram analistas da Bloomberg Intelligence, Steve Man e Peter Lau, em nota após a eleição.

Analistas do Morgan Stanley também reconhecem que "os riscos para os gastos com energia limpa decorrentes do resultado da eleição são mais limitados do que se imagina," segundo uma nota enviada aos clientes. Eles recomendam comprar ações de empresas como a First Solar, Bloom Energy, GE Vernova e NextEra Energy.

Maria Lettini, CEO da US SIF, que é a organização dos EUA que representa o investimento sustentável, disse que está comprometida em "trabalhar com o próximo governo e outros representantes eleitos em todo o país."

Enquanto isso, o apoio contundente de Trump à indústria de combustíveis fósseis significa que a dependência de petróleo e gás será "rejuvenescida," disse George Boubouras, chefe de pesquisa do fundo de hedge K2 Asset Management.

"As projeções de demanda por combustíveis fósseis se estendem além de um mandato presidencial de quatro anos," disseram pesquisadores do Citigroup, liderados por Anita McBain. "Investidores de longo prazo provavelmente manterão a visão de que globalmente estamos em transição para uma economia de baixo carbono, apesar de uma possível mudança de ritmo no curto prazo."

O resultado é que, mesmo com Trump como presidente, a "transição energética continuará a fazer parte dos portfólios," disse Boubouras.

William Mathis , Ishika Mookerjee , Greg Ritchie e Saijel Kishan
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