O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, voltará à Casa Branca com uma série de vitórias para chamar de suas. Será reconduzido ao cargo em janeiro com o melhor desempenho do Partido Republicano nas urnas em 20 anos e com maiorias no Senado, na Câmara, nos governos estaduais e na Suprema Corte.
Além disso, será lembrado como o principal responsável por uma guinada expressiva à direita no país. Mesmo após um governo conturbado, o ex-presidente conseguiu avançar sobre cidades e eleitorados antes considerados monopólios do Partido Democrata —do atual presidente, Joe Biden, e de sua vice agora derrotada, Kamala Harris.
Para começar, ele angariou o apoio da maioria da população (50,2% dos votos populares), marca que nenhum candidato de seu grupo político conseguiu atingir depois de George W. Bush em 2004. Teve, porém, a vitória mais acirrada nesse quesito desde 2000, por dois pontos percentuais.
Trump chegou lá conquistando todos os sete estados-pêndulo destas eleições (Geórgia, Michigan, Carolina do Norte, Pensilvânia, Wisconsin, Arizona e Nevada), feito que não se via há pelo menos 20 anos. Assim, ele obteve 312 dos 538 delegados do Colégio Eleitoral, melhor resultado desde a reeleição de Barack Obama em 2012.
Além dessas áreas, ele progrediu em grandes cidades onde democratas costumavam ganhar por mais de 50 pontos percentuais de vantagem, caso de Chicago, Los Angeles, Nova York e a vizinha Jersey City, no estado de Nova Jersey.
Outro reduto adversário que Trump conseguiu virar foi o sul do Texas, conquistando 12 dos 14 condados ao longo da fronteira com o México e fazendo avanços significativos até mesmo em El Paso, a maior cidade dessa região. Em 2016, ele havia vencido em apenas cinco.
Seu apoio na região é o exemplo mais marcante do deslocamento de parte dos eleitores hispânicos (que são 15% do total e só crescem) e da classe trabalhadora ao republicano. Trump teve o maior apoio de seu partido entre o eleitorado latino desde 1976, início da série histórica das pesquisas de boca de urna.
Isso após uma campanha marcada por ataques a imigrantes, acusados pelo republicano de "envenenar o sangue da nação" e frequentemente associados à criminalidade, a despeito das evidências. Há uma certa diferenciação cultural no país pelos que se consideram americanos latinos em relação aos estrangeiros que acabam de chegar, o que foi explorado pela campanha Trump.
Quando considerados apenas homens latinos, o ex-presidente conseguiu virar o jogo. Depois de perder o grupo por uma margem de 23 pontos na disputa de 2020, ele agora venceu com uma folgada diferença de 12 pontos percentuais.
Com um discurso predominantemente masculino, Trump também reduziu a desvantagem entre homens negros, o que lhe deu uma média de cinco pontos percentuais a mais entre negros em geral, se comparado a oito anos atrás. Nesse período, por exemplo, ele quase triplicou seus votos no bairro do Bronx, em Nova York, de 38 mil para 92 mil.
Nessas eleições, o Partido Republicano ainda conseguiu recuperar o controle do Senado, pelo menos pelos próximos dois anos, depois de perder sua maioria em 2020. Seu partido, que já ocupava 38 cadeiras que não estavam em disputa, elegeu mais 15 senadores, somando agora 53 dos 100 assentos.
Já na Câmara, o partido de Trump atingiu 218 deputados nesta quarta (13), um a mais que o necessário para maioria simples na Casa, e conquistou o controle total do Congresso. Os democratas aparecem com 208 cadeiras, e ainda há 9 em disputa, com a apuração a passos lentos em alguns locais.
Os resultados estaduais também formam um cenário favorável à legenda, que manteve 27 dos 50 governadores. Entre os 11 estados que estavam em disputa, os republicanos ganharam em 8, contrariando pesquisas que indicavam a possibilidade de virada em New Hampshire e Indiana. O mapa, portanto, continuou igual.
Além do Legislativo e dos governadores, ao vencer, Trump garantiu a chance de assegurar o predomínio das indicações do seu partido na Suprema Corte por décadas. Após provocar uma guinada à direita no Tribunal, com três nomeações em seu primeiro mandato (2017-2021), agora há ao menos duas potenciais indicações em jogo.
Essa maioria conservadora foi o que permitiu, por exemplo, que a Suprema Corte revertesse a decisão histórica de Roe vs. Wade, que garantia o direito ao aborto em âmbito nacional. O tema era uma das principais armas da campanha de Kamala contra Trump, que desviou do assunto ao dizer que deixaria as decisões a cargo de cada estado.
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