Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia

Avanço de Putin paralisa única indústria de carvão da Ucrânia

Fábrica de coque foi fechada e minas de Pokrovsk, no leste do país, estão sendo evacuadas

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São Paulo

Depois de degradar boa parte da produção energética da Ucrânia, a Rússia começou a paralisar a já combalida indústria metalúrgica do país de Volodimir Zelenski.

O avanço das forças de Vladimir Putin contra o centro logístico de Pokrovsk, na província de Donetsk (leste), trazem mais do que o risco do colapso da defesa ucraniana em toda a região: ameaçam inviabilizar a produção de aço do país invadido há quase três anos.

Mulher de preto com um carrinho passa por prédios semidestruídos em uma rua com neve nas calçadas
Mulher passa no mês passado por prédios destruídos em Pokrovsk, na região de Donetsk - Inna Varenitsia - 12.dez.2024/Reuters

Nesta segunda (13), relatos inicialmente divulgados pela agência Reuters e depois confirmados pela mídia ucraniana mostraram que a usina de produção de coque em Pokrovsk, a única do país, foi fechada.

O produto é o resultado da queima em alta temperatura sem oxigênio do carvão mineral, e é usado como fonte primária do carbono para o aço e para a queima do minério de ferro nos altos-fornos.

Para piorar, a região sedia o maior complexo de minas de carvão da Ucrânia. Nesta segunda, tropas russas tomaram uma cidade que faz parte do sistema, Pischane. Segundo o site de monitoramento da invasão DeepState, já há batedores a menos de 2 km do centro de Pokrovsk, e minas da cidade estão sendo evacuadas.

Antes da chegada dos russos, a produção metalúrgica e siderúrgica respondia por 30% das exportações ucranianas, ou 10% de seu PIB. Os valores já eram bem menos expressivos do que antes do início da guerra civil no Donbass, em 2014.

A região inclui as russófonas Donetsk e Lugansk, e separatistas incentivados por Moscou começaram a lutar naquele ano após a derrubada do governo pró-Rússia de Kiev, na esteira da anexação da Crimeia por Putin.

O Donbass foi um dos corações da produção metalúrgica da antiga União Soviética. Até 2015, a capacidade ucraniana era de produzir 42 milhões de toneladas de aço por ano; em 2021, isso já tinha caído a 27 milhões de toneladas e agora, está em 18 milhões de toneladas de capacidade instalada.

Segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), contudo, apenas 7,6 milhões de toneladas foram de fato exportadas. Esse número pode cair, diz o sindicato do setor, para 2 milhões de toneladas se Pokrovsk cair.

As usinas do país já estavam severamente afetadas. Dos 13 altos-fornos do país, só 5 estão em operação. Em Mariupol, tomada em 2022 pelos russos, foram paralisadas 2 das 3 principais usinas do país —a Ilitch está sendo canibalizada pelos tchetchenos e a Azovstal virou uma ruína.

Desde fevereiro do ano passado, Donetsk é o principal palco da guerra, com a tomada crescente de territórios por Putin, ainda que a passos lentos e o custo estimado em 1.500 mortes diárias do lado russo. A instalação de infraestrutura na região também está avançando, como a Folha mostrou em novembro.

A corrida é por uma posição mais favorável se houver, como se espera, a pressão do novo governo de Donald Trump, que assume na semana que vem, para uma negociação de paz. O republicano expressa visões favoráveis ao Kremlin, que já se disse disposto a conversar desde que em seus termos.

Kiev faz o que pode, mantendo os ataques assimétricos com drones e mísseis de maior alcance dos EUA, uma autorização dada no fim do ano por Joe Biden que Trump já disse que deverá suspender.

Nesta segunda, uma usina química da cidade de Briansk, no sul da Rússia, foi atingida pelo que a mídia ucraniana diz terem sido mísseis táticos ATACMS americanos.

Além de buscar se mostrar viva em campo, apesar do fracasso já admitido até pelos EUA de sua renovada ofensiva na região russa da Kursk, a Ucrânia também quer explicitar a aliança entre Putin e a Coreia do Norte, ditadura comunista que é um calo no pé de Trump desde seu primeiro mandato.

No fim de semana, Kiev apresentou dois soldados que seriam norte-coreanos, capturados em ação em Kursk. Putin e o ditador Kim Jong-un assinaram em 2024 um pacto que prevê a assistência mútua em caso de agressão, e estima-se que até 12 mil homens do país asiático podem ter sido treinados para emprego em Kursk. O Kremlin nem nega, nem confirma isso.

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