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O que a Folha pensa

A ponte e o Estado que gasta muito, mas investe pouco

Desabamento ilustra escassez de verbas públicas para infraestrutura nacional, que precisa depender mais do setor privado

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Vista aérea da ponte Juscelino Kubitscheck após desabamento, em Estreito (MA) - Reprodução/Vshenrique no Instagram

Ainda está por ser dimensionada a extensão da tragédia provocada pelo desabamento da ponte Juscelino Kubitscheck de Oliveira, na divisa entre Tocantins e Maranhão.

Desde domingo (22), já se contam seis mortos, e há ao menos 11 desaparecidos. Apura-se ainda a gravidade do dano causado às águas do rio Tocantins, dado que caminhões que passavam pela ponte no momento da queda carregavam 76 toneladas de ácido sulfúrico e 22 mil litros de defensivos agrícolas.

O Dnit, departamento encarregado das rodovias federais, abriu sindicância, e a Polícia Federal também vai investigar o caso. É plausível que se descubra negligência ou irregularidade —contudo é certo que não se trata de um problema isolado.

Como reportou a Folha, existem nada menos que 597 pontes geridas pelo Dnit em situação classificada como ruim, a mesma da ponte que caiu. Outras 130 são consideradas em estado crítico, ainda pior. Isso significa que 12,5% (727) do total nacional se encontra nessas duas categorias.

Outros levantamentos do tipo provavelmente indicarão precariedades em setores diversos da infraestrutura, o que é reflexo de uma reconfiguração ainda incompleta do Estado brasileiro.

Desde o nome, a ponte Juscelino Kubitscheck remetia aos anos do desenvolvimentismo, quando se atribuía ao investimento público o papel de motor da economia. A estrutura foi inaugurada em 1961, quando os aportes de União, estados, municípios e estatais somavam perto de 6% do Produto Interno Bruto —a cifra chegaria a 10,6% em 1976, no período do chamado milagre econômico.

Ainda que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adote o discurso político de que todo gasto público é investimento, este é um tipo de gasto bem definido na contabilidade nacional: são obras e aquisições de equipamentos destinadas a ampliar a capacidade física de produção de bens e serviços.

Com o colapso do desenvolvimentismo e da ditadura militar na década de 1980, o Estado democrático assumiu a prioridade correta de combater a pobreza e a desigualdade social. A grande expansão de benefícios previdenciários, trabalhistas e assistenciais das últimas décadas reduziu o espaço orçamentário para o investimento público, que não passou de 2,6% do PIB em 2023.

Ainda está em curso —e sujeito a retrocessos— o processo de vendas de estatais e concessões para transferir ao setor privado mais responsabilidade na expansão da infraestrutura. Enquanto isso, o Estado mal consegue preservar o que já instalou.

editoriais@grupofolha.com.br

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