O número de médicos em atuação no Brasil aumentou entre 2019, ano anterior à pandemia, e 2023. Essa é a boa notícia. A má é que ainda há profunda disparidade regional na oferta de profissionais.
De fato, países com dimensões continentais e vastas áreas remotas de natureza selvagem enfrentam desafios para ofertar serviços públicos de modo mais igualitário —até os ricos Canadá e Austrália, por exemplo. Mesmo assim, o esforço para diminuir diferenças deve ser contínuo.
Segundo o relatório Síntese de Indicadores Sociais, divulgado pelo IBGE na quarta-feira (4), o número total de médicos no período subiu de 406,7 mil para 502,6 mil —alta de 23,6%.
A taxa dos que atuavam no SUS em 2023 caiu levemente ante 2019, de 72,8% para 71,4%; já a dos que estavam na rede privada cresceu 1,4 ponto percentual, chegando a 28,6%. O número de médicos por 10 mil habitantes aumentou de 19,6 para 23,7.
Numa comparação internacional a partir de números de 2022, ano dos dados mais recentes de outros países, o Brasil (22,5) estava próximo do Canadá (25), mas distante do Reino Unido (31,7) e muito mais de vizinhos como Uruguai (46,2) e Argentina (40,8).
No âmbito doméstico, o IBGE mostra a diferença regional histórica verificada em várias pesquisas de outras instituições.
A média nacional em 2023 é superada no Sudeste (29,2), no Sul (27,1) e no Centro-Oeste (25,3), enquanto Nordeste e Norte estão muito abaixo dela, com 16,5 e 13, respectivamente. Ademais, a região Norte é a única onde há mais enfermeiros do que médicos por 10 mil habitantes.
Para diminuir disparidades, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reativou o Mais Médicos no início do mandato. A iniciativa é bem-vinda, mas ainda precisa ser associada a outras ações.
Levantamento da Folha de 2023 revelou que, mesmo com as 1.869 vagas destinadas à Amazônia Legal no edital do programa, seriam necessários mais de 21 mil médicos na região para eliminar a discrepância —de acordo com o Ministério da Saúde, neste fim de 2024 há mais de 25 mil profissionais no Mais Médicos.
A telemedicina pode ser uma aliada na supervisão de profissionais jovens —geralmente mais dispostos a passar um período de sua formação em áreas remotas— e no acesso a atendimento para casos mais complexos.
Não há bala de prata. É preciso se valer dos indicadores, investir em infraestrutura e criar políticas articuladas nas três esferas para que o direto à saúde chegue de forma plena a todo o país.
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