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Dionisio Neto

Demidov, a maior descoberta do teatro mundial desde Stanislavski

Em seu teatro não há 'erro' nem marcações; há vida criativa pulsando em todos as suas dimensões

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Dionisio Neto

Ator, autor, produtor e diretor artístico da Companhia Satélite do Amor

Se você, teatrólogo, ator ou não, já ouviu falar de Nikolai Demidov, você é tão raro quanto ele. Desde Stanislavski, de quem ele era assistente, ele é a maior descoberta do teatro mundial que você não conhece.

O diretor, ator, professor e psiquiatra teve seus livros proibidos na Rússia até os anos 1950, perto do ano de sua morte. Só foi traduzido, e ainda assim não completamente, para o inglês no início deste século. É uma relíquia que começa a ser descoberta.

O próprio mestre russo dizia que ele era o único aluno que compreendia seu sistema. Tanto que criou seu próprio método, na contramão complementar ao dele. Stanislavski falava de ação, tarefas; Demidov fala de passividade, embrião, percepção, calma criativa, leitura sensorialmente táctil, consciência bifurcada e fundamentalmente liberdade —física e psicológica.

Não há "erro" nem marcações. Há vida criativa pulsando em todos as suas dimensões. Stanislavski é música erudita, Demidov é jazz.

Ele também era adepto das técnicas orientais, assim como Antunes Filho, que não o conheceu mas sempre nos dizia: "O personagem não quer falar". Sem saber, ele estava falando indiretamente de um dos fundamentos do método ainda desconhecido. Tenho certeza de que se ele o conhecesse teria seu método como disciplina do seu Centro de Pesquisas Teatrais.

O ator e diretor de teatro Nikolai Vasilievich Demidov (1884-1953)
O ator e diretor de teatro Nikolai Vasilievich Demidov (1884-1953) - Reprodução

Zé Celso também não o conhecia; eu fui o primeiro a falar dele para o saudoso diretor, em uma live em plena pandemia.

Dos métodos e sistemas ocidentais, tenho conhecimento de todos e posso dizer com absoluta tranquilidade que o de Demidov é o mais simples e mais eficiente.

Eu o conheci em 2018, através de vídeos do jovem teatrólogo mineiro Diogo Rezende, que está traduzindo diretamente do russo seus cinco livros. Ele também criou o Centro de Estudos Demidov no WhatsApp, que conta com mais de 200 atores de todo o Brasil.

A publicação de sua tradução é mais do que urgente e necessária.

Demidov deu nome simples às mais complexas questões da arte da atuação, que desde que o primeiro sistema foi criado por seu mestre continuam exatamente as mesmas. Ele criou um fascinante exercício para o treinamento das liberdades —os "ètudes"— e classificou os atores em emocionais, racionais, imitativos e os melhores, afetivos. Somos às vezes um, às vezes outro, às vezes um misto de todos.

Os livros dele são surpreendentes como um tesouro escondido por muito tempo, uma civilização inteira escondida embaixo da terra e que agora, aos poucos, começa a ser descoberta. Os benefícios que ele traz às artes cênicas mundiais são ilimitados. A mecanicidade, a artificialidade que invade o palco desde sempre —e que sempre foi combatida em busca da verdade da vida no palco e nas telas—, com seu método ganha organicidade, humanidade. Será que é a vacina contra a canastrice crônica?

Antes de conhecer seu método, eu pensava ser um ator stanislavskiano. Depois que estudei por décadas com a mestra do Lee Strasberg Institute, de Nova York, a diretora Lucia Segall, passei a ser um ator do Método.

Agora, sem dúvida, sou um ator demidoviano. Sua metodologia começa aos poucos a ser difundida no Brasil e no mundo. Os resultados transformadores do seu método são visíveis em atores profissionais ou não. Ele nos abre as portas do inconsciente e nos convida a mergulhar.

Demidov me libertou. Liberdade! Liberdade!

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