Descrição de chapéu Rio de Janeiro Caso Marielle

Vice do PT recebe família Brazão, sugere inocência sobre Marielle e gera racha

Washington Quaquá publicou foto com familiares de investigado por assassinato de Marielle Franco; Anielle promete reação

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São Paulo

Prefeito de Maricá (RJ) e vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá gerou um racha interno na sigla após publicar, na noite desta quinta-feira (9), uma foto com a esposa e os filhos de Domingos Brazão, apontado como mandante do assassinato de Marielle Franco.

Na postagem, Quaquá sugere que tanto Domingos quanto seu irmão Chiquinho Brazão –ambos réus na investigação que apura a morte da vereadora– são inocentes.

"Eu quero afirmar o que já afirmei diversas vezes, porque não só conheço Domingos e Chiquinho Brazão, mas, além disso, li todo o processo e não há sequer uma prova contra eles!", escreve o petista.

O vice-presidente no PT, Washington Quaquá, homem branco, usa óculos, veste camisa branca, calça jeans e uma botina marrom. Está sentado em uma caedeira de escritório, com a perna direita apoiada sobre a esquerda enquanto olha para a câmera. No mesmo ambiente estão quatro mulheres, todas sentadas em um sofá, e dois homens, também acomodados em cadeiras de escritório. Todos olham para a câmera que registrou a foto
Washington Quaquá, figura de envergadura no PT, recebeu familiares de Domingos Brazão nesta quinta; publicou foto em seu perfil no Instagram e defendeu que não há provas contra um dos apontados como mandante pela morte de Marielle Franco - Reprodução/Instagram

A publicação levou a uma reação imediata em Anielle Franco, irmã de Marielle e ministra da Igualdade Racial no governo Lula, que promete acionar a Comissão de Ética do partido contra Quaquá.

"Inacreditável, depois de tudo que a gente passou, ver pessoas se aproveitarem e usarem o nome da minha irmã sem qualquer responsabilidade. Minha família e a de Anderson [Gomes] ainda choram todos os dias pelas nossas perdas e lutamos duramente para que a justiça começasse a ser feita", publicou a ministra em rede social, citando o motorista que foi assassinado junto com a vereadora.

"Tirem o nome da minha irmã da boca de vocês!", concluiu.

A publicação também chamou atenção da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que repudiou a declaração do prefeito de Maricá e a classificou como de "caráter exclusivamente pessoal".

"O PT luta desde o primeiro momento para que a Justiça seja feita por Marielle e Anderson, com punição para todos os criminosos, e repudia as manifestações do prefeito sobre os réus e o processo", disse Gleisi em rede social.

O partido ainda não se pronunciou sobre o assunto.

O deputado federal Chiquinho (sem partido) e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro Domingos Brazão foram presos em março de 2024 pela Polícia Federal e transferidos para os presídios federais de Campo Grande e Porto Velho, respectivamente. Na ocasião, também foi preso o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil no Rio.

Chiquinho foi para o mesmo presídio onde está o ex-policial militar Ronnie Lessa, executor confesso do assassinato e um dos delatores do caso. Foi o depoimento de Lessa que levou a PF, seis anos após o crime, a enquadrar os irmãos Brazão entre os suspeitos de serem seus mandantes.

Lessa foi condenado, em outubro, a 78 anos de prisão pela morte de Marielle e Anderson.

O episódio gerou manifestação pública também da primeira-dama Janja.

"É desrespeitoso com a memória de Marielle Franco e Anderson, e toda a luta de seus familiares por justiça, promover a desinformação nas redes sociais sobre o andamento do caso. Domingos e Chiquinho Brazão, de acordo com a lei, estão presos e aguardando julgamento, pela denúncia da Procuradoria-Geral da República de serem os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson", escreveu Janja, em uma publicação com a foto de Marielle.

A ministra Cida Gonçalves (Mulheres) disse que "sair em defesa dos irmãos Brazão é mais uma face cruel da violência política de gênero".

A ministra Macaé Evaristo (Direitos Humanos e Cidadania) afirmou que "é inadmissível a tentativa de deslegitimar as investigações".

Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, afirmou que "qualquer solidariedade aos investigados é um ataque a todos que defendem a democracia".

A publicação de Quaquá acentuou os atritos já existentes entre as alas que atuam no PT no Rio de Janeiro. A legenda estadual é comandada pelo grupo de Quaquá, e quadros ligados ao prefeito preferiram o silêncio nas redes.

Já o diretório municipal da capital fluminense, responsável por articular a filiação de Anielle ao PT há quase um ano, repudiou o encontro de Quaquá com a família Brazão, compartilhando a publicação da ministra.

"Isso é ruim porque confunde a militância e o eleitor", afirma Tiago Santana, presidente do PT na cidade. "A ministra é um quadro em ascensão, a queremos no PT para nos ajudar a reformular esse tipo de pensamento".

O nome de Anielle circula entre os cotados para concorrer ao cargo de deputada federal em 2026. Nas eleições de 2024, a ala carioca do PT a sugeriu como vice na chapa do atual prefeito Eduardo Paes (PSD).

Ex-deputado federal e prefeito de Maricá recém-empossado para um terceiro mandato —esteve à frente da cidade de 2009 a 2016—, Quaquá já havia irritado parte dos petistas quando publicou, em 2023, uma foto sorrindo ao lado do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde de Jair Bolsonaro (PL), durante um evento na Petrobras. Depois, o vice-presidente nacional do PT chamou os críticos de "jumentos".

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